Como todo músico, o sonho dos quatro rapazes era gravar uma “demo” (fita demonstração). Nada a ver com o Demonio. Rogério, o empresário, tinha um amigo que trabalhava no estúdio Cameratti, em Santo André. Seu amigo, nada mais que Cláudio Lutti, um dos maiores produtores musicais da época, agendou uma data para a gravação da primeira demo. O estúdio existe até hoje, e foi comprado pelo cantor Belchior. Naquela época as músicas ainda eram gravadas em fitas de rolo. A banda gravou suas primeiras músicas: Eterno Amanhecer e Sombras do Passado. Chegaram cedo no estúdio e passaram sábado e domingo gravando duas músicas. Só pra quem não sabe, quando se grava uma música, primeiro é gravado a bateria e o baixo. O vocal faz apenas a voz guia para o baixista e o baterista não perderem o ritmo. Depois disso, é gravada a guitarra base, depois o violão, e por final, a voz principal e os backin' vocals. Feita a gravação, tudo é passado pelo técnico de som que vai regular o timbre e volume de cada instrumento, a começar por cada peça da bateria. Se houvesse algum erro na música, era necessário gravar novamente. Hoje é tudo um pouco mais fácil. Existe um software chamado Pro Tools que coloca tudo no lugar. Faz a voz da Xuxa parecer Celine Dion. Mas naquela época era na raça. Tudo isso pra gravar duas músicas numa fita de rolo que durou no máximo 2 anos, pois embolorou toda.
A seguir, uma matéria que saiu a pouco tempo em uma revista da região:
Nos bastidores do extinto estúdio Camerati
“Falar do Camerati é simplesmente rememorar a era da indústria fonográfica no Grande ABC”. A definição do produtor musical César Hernandes, o conhecido CB, é parecida com a de tantos outros profissionais que tiveram a oportunidade de trabalhar no único estúdio de gravação analógica da região que teve projeção nacional.Criado no início dos anos 80 pelo compositor Claudio Lucci – duas de suas canções foram gravadas por Elis Regina (Colagem e Vecchio Novo) – o estúdio, que tornou-se selo musical, era freqüentado por grande parte dos artistas populares da época, inclusive da capital paulista. Isso porque a proposta do fundador era dar andamento a um Centro Cultural, oferecendo à população aulas de música, teatro e artes plásticas.Desta idéia nasceu a escola Violão e Cia. Lá surgiram grandes músicos como os bateristas Vera Figueiredo (fundou um Instituto para lecionar o instrumento e hoje faz parte da banda do programa Altas Horas, apresentado pela Rede Globo), Carla Dias (recepcionista e professora do Camerati), Marco Costa (atualmente toca na banda de Maria Rita) e o percussionista Da Lua (também da equipe da cantora).O baixista Celso Pixinga e o trombonista Bocato fazem parte do mesmo time, assim como uma gama de músicos de bandas independentes da região (que gravavam pelo sub-selo Garagem, criado pelo próprio Camerati) e outros artistas que lançaram seus primeiros discos pela gravadora. Entre os mais famosos estão as bandas de punk Garotos Podres e Inocentes e de rock Patrulha do Espaço e Código 13. No início dos anos 90, o estúdio abriu as portas para os grupos de pagode ExaltaSamba, Os Travessos, Toca do Coelho, Art Popular, entre outros. Os cantores solo Zé Geraldo (Poeira e Canto ao Vivo – 1988), Tetê Espíndola (Só Tetê – 1994) e Paula Morelenbaum (Paula Morelenbaum – 1992 – Independente) também gravaram pelo selo.Nesta altura, o nome Camerati já tinha grande visibilidade e mesmo sem tecnologia – os discos eram remasterizados nos Estados Unidos – atraia cada vez mais a atenção dos investidores da área, inclusive do cantor Belchior que comprou a gravadora em 1997. No entanto, seja por má administração, por não ter acompanhado a era digital ou, simplesmente, devido ao crescimento da concorrência, no final dos anos 90 a casa de cultura já não existia mais.Hoje, quem passa em frente ao terreno onde era o estúdio (na rua Padre Manuel da Nóbrega, bairro Jardim, em Santo André) encontra apenas uma árvore e muitos carros. Depois de tentativas fracassadas de transformar o local em outros estabelecimentos comerciais (danceteria, restaurante) o prédio foi demolido para dar espaço a um estacionamento.Nas lembranças dos freqüentadores, alunos e funcionários do extinto Camerati restaram apenas saudades e grandes histórias de bastidores que certamente atravessarão gerações.
“Falar do Camerati é simplesmente rememorar a era da indústria fonográfica no Grande ABC”. A definição do produtor musical César Hernandes, o conhecido CB, é parecida com a de tantos outros profissionais que tiveram a oportunidade de trabalhar no único estúdio de gravação analógica da região que teve projeção nacional.Criado no início dos anos 80 pelo compositor Claudio Lucci – duas de suas canções foram gravadas por Elis Regina (Colagem e Vecchio Novo) – o estúdio, que tornou-se selo musical, era freqüentado por grande parte dos artistas populares da época, inclusive da capital paulista. Isso porque a proposta do fundador era dar andamento a um Centro Cultural, oferecendo à população aulas de música, teatro e artes plásticas.Desta idéia nasceu a escola Violão e Cia. Lá surgiram grandes músicos como os bateristas Vera Figueiredo (fundou um Instituto para lecionar o instrumento e hoje faz parte da banda do programa Altas Horas, apresentado pela Rede Globo), Carla Dias (recepcionista e professora do Camerati), Marco Costa (atualmente toca na banda de Maria Rita) e o percussionista Da Lua (também da equipe da cantora).O baixista Celso Pixinga e o trombonista Bocato fazem parte do mesmo time, assim como uma gama de músicos de bandas independentes da região (que gravavam pelo sub-selo Garagem, criado pelo próprio Camerati) e outros artistas que lançaram seus primeiros discos pela gravadora. Entre os mais famosos estão as bandas de punk Garotos Podres e Inocentes e de rock Patrulha do Espaço e Código 13. No início dos anos 90, o estúdio abriu as portas para os grupos de pagode ExaltaSamba, Os Travessos, Toca do Coelho, Art Popular, entre outros. Os cantores solo Zé Geraldo (Poeira e Canto ao Vivo – 1988), Tetê Espíndola (Só Tetê – 1994) e Paula Morelenbaum (Paula Morelenbaum – 1992 – Independente) também gravaram pelo selo.Nesta altura, o nome Camerati já tinha grande visibilidade e mesmo sem tecnologia – os discos eram remasterizados nos Estados Unidos – atraia cada vez mais a atenção dos investidores da área, inclusive do cantor Belchior que comprou a gravadora em 1997. No entanto, seja por má administração, por não ter acompanhado a era digital ou, simplesmente, devido ao crescimento da concorrência, no final dos anos 90 a casa de cultura já não existia mais.Hoje, quem passa em frente ao terreno onde era o estúdio (na rua Padre Manuel da Nóbrega, bairro Jardim, em Santo André) encontra apenas uma árvore e muitos carros. Depois de tentativas fracassadas de transformar o local em outros estabelecimentos comerciais (danceteria, restaurante) o prédio foi demolido para dar espaço a um estacionamento.Nas lembranças dos freqüentadores, alunos e funcionários do extinto Camerati restaram apenas saudades e grandes histórias de bastidores que certamente atravessarão gerações.
5 comentários:
foi um dos melhores dias de minha vida...
Gravar duas músicas no Cameratti e fazer um show no espaço cultural!!
Estou revivendo isso agora e fico emocionado...
Lembro de empunhar minha Strato e mandar a base das músicas e, depois mandar os sólos...Foi uma sensação maravilhosa ouvir minha musicalidade gravada!
Lembro que ao final da gravação, nós quatro (Valter, Celso, Ivan e Denis) ficamos do lado de fora do estúdio, numa espécie de jardim, exaustos, tomando umas cervejas e ouvindo o resultado final das gravações! Foi uma das melhores sensações que já tive! Aquelas músicas ali gravadas, eram como filhos que nasciam!
eu assisti essas cenas varias vezes,emocionante,saudades
Well, faz Mai's de 25 anos, de qdo, ainda estudante de jornalismo na Meto, tive a oportunidade de conhecer o espaco. Na epoca, fui pq o grupo Rumo iria se apresentar. Encantei me com tudo, but, me transferi pp outro pais, e perdi noticias de como estava o espaco. Eh meio triste saber q nao existe Mai's fisicamente, mas, gracias a D eus e a todos boas lembrancas ficaram. ObrigadA
Época maravilhosa da minha vida. Excelentes professores e que saudades do grupo de alunos tocando violão e cantando Milton Nascimento, sextas-feiras eram os ensaios. Quanta, quanta saudades. Obrigada professor Cláudio e professora Mônica.
Eu dei início ao meu primeiro trabalho em vinil, a Ópera-Rock "Aliança dos Tempos", a primeira já gravada no Brasil, no Estúdio Camerati em 18/10/1989. Esse vinil foi lançado pela Gravadora Independente ROCK FOREVER e depois o CD foi lançado pela Gravadora Francesa MUSEA RECORDS. Foi uma grande aventura musical que começou no Estúdio Camerati, e que hoje completa 30 anos. Obrigado a todos do estúdio por essa oportunidade. Forte abraço!
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