sábado, dezembro 04, 2004

20. O Empresário

Época boa, em que uma banda de rock tocava em tudo quanto é lugar, sem ganhar um centavo, era casamento, festival, aniversário, velório (e ainda levava as minas pra chorar no caixão). Pintou um showzaço, mega evento, no fundo do quintal da casa da Nice, uma ex-namorada do Marcião (o homem-borracha), fotógrafo oficial do C-13. Para quem tocou com Elvis “da Silva” Presley, o povo chegou lá e tava rolando uma super apresentação com a Janis Joplin. Todo lugar tinha um que encarnava um defunto e cantava igual. Naquele tempo não existia “cover” nem “pirataria”. Ou era ou não era. Tudo era cópia, mas nada era pirata. Era cópia real e oficializada. Contrabando só nas calças Lee e All Star cano longo com estrela pintada à mão por Enrico Gómez, del Paraguai. Logo em seguida, rolou uma canja do Pink Floyd, tocando Time, enquanto o C-13, engolia churrasco com cerveja, para abastecer. Pra variar, o Código 13 encerrou a noite com Van Halen (Ain´t talking about love) e The Trashman (Surfin´Bird), o que levou a galera à loucura. É evidente que era bem melhor encerrar os shows, quando o pessoal já estava tudo “bêbado” e começavam a brincar de punk, numa dança ritual, rolando porrada pra tudo quanto é lado. O pior de tudo, é que a aniversariante adorou!!!! Fim de festa, todo mundo sentado na beira da calçada, e aparece do nada um nariz saindo pelo portão. De inicio, uma aberração da natureza, mas logo em seguida, aparecia o resto do corpo. Não sei se era efeito da bebida, mas jamais vi um nariz tão grande em minha vida. Olhei para os quatro rapazes deitados na calçada, que não tiravam o olho da namorada do “nariz”, uma loiraça gigante, com os dois olhos roxos, talvez adquiridos pelas inúmeras tentativas de acasalamento. O cara gostou da apresentação da banda e se apresentou como empresário, e queria investir na banda. Como os rapazes conheciam a estória do Pinóquio, ficaram inicialmente meio desconfiados, mas talvez valesse a pena deixar o cara empresariar à banda, já que o mesmo possuía uma namorada de tirar o fôlego. O nome do cara era Rogério, que por fim, acabou arrumando mesmo bastante show para a banda, e tornando-se parte do grupo por um bom tempo. Na realidade, ele não era empresário coisa nenhuma, mas era gente boa e tinha uma boa namorada. Como não sei do paradeiro desta figura, resolvi criar uma “cópia” através do Photoshop, para vocês terem uma pequena noção do que era o empresário do Código 13. Mas é bem parecido!!!

foto editada por: Celso Montal

quarta-feira, novembro 10, 2004

19. Festa de 01 Ano de Banda


como dizia a canção: o artista vai onde o povo está.

Vários shows iam se passando, várias dificuldades vencidas, alegrias, tristezas, divergências, convergências, enfim, uma amizade grande entre os quatro loucos que estavam tentando levar a vida como cigarras, ou seja, cantando e tocando alto, sem medos, limites, tudo na maior cara de pau! Conforme o tempo passava, com a carga desumana de ensaios a que os rapazes se entregavam, (apenas para que fique bem claro, os ensaios eram todos os finais de semana, nos sábados e nos domingos, em média de 6 a 8 horas por dia, fora os estudos individuais durante o resto da semana), o som foi ficando mais apurado, a criatividade mais desenvolvida. Mas, fato é que a banda completava um ano de existência! Exaustos com a rotina de trabalho, ensaios e shows, resolveram comemorar no melhor estilo farofeiro!


Seo Celino com seu uniforme de praia

Foram todos se instalar na casa da Praia Grande-SP do Seo Celino (o grande Cantor Cowboy, que hoje se encontra pulando de nuvem em nuvem na casa do Pai) e da Dona Carmem (respectivamente, pai e mãe do Celso), a bagunça foi geral! A casa da praia era razoável para acolher a família de Celso, que naquela época viajavam todos juntos, somando 13 pessoas (percebem que o número persegue?) Celso e Denis chegaram antes na baixada. Logo em seguida, apareceram Valter e Ivan. No sábado para surpresa de Dna. Carmen, a convite do Celso, foram chegando Preto, Saul (que hoje é empresário do Cowboy na casa do Pai, Maurão (que teve sua cueca predileta roubada pelo Valtão, e criou a maior "muvuca"), Capeta (que virou evangélico, pode???) e Gilberto "Gil" (não, não é o ministro), que tomava conta de toda essa cambada. Todos dormiram na mesma casa. Logo na primeira noite, Ivan e Denis saíram e conheceram umas garotas em um bar, como estavam sozinhos (elas estavam em cinco ou seis) marcaram com elas para voltar no outro dia, no mesmo local, porém acompanhados de Celso e Valter, quem sabe assim, dariam conta do recado! No outro dia, depois de muita farofa na praia e muita, mas muiiiitaaaa cerveja (o porre não acabava nunca) foram encontrar as garotas no tal bar!


Denão jogando xaveco nas garotas do Barzinho

Ivan, completamente chapado, só dava vexame e derrubava copo, falava alto, olhava por debaixo da mesa para ver... bom deixa pra lá... Denis, igualmente chapado, tentava de qualquer forma agarrar uma das moças... Celso, só ria e estava completamente ocupado com Valter que, diga-se de passagem, não havia sarado do porre desde a hora que chegaram na Praia Grande, ou seja, desde o dia anterior! Uma das moças se engraçou com Valter, mas, acredito que, ao chegar perto dele, pelo bafo de cerveja e whisky, ela tenha achado melhor deixar pra lá!! O que prometia ser uma noite de muito sexo e rock an´roll, foi, mais uma vez, apenas rock a! As meninas, muito educadas, dispensaram gentilmente os quatro pudins de pinga! Os quatro saíram pela Praia, aí a doideira estava começando! A banda não costumava se embebedar assim. Com exceção de Valter, Denis, Ivan e Celso, acho que eu era o único sóbrio da banda era eu, Mr. Grog. Só pra vocês terem uma idéia, a caipirinha era feita no vaso vidro que a mãe do Celso tinha na sala. Mas voltemos a praia. Como dito, Ivan entrou no mar de roupa e tudo, Denis que era exímio nadador (pois não saia da piscina Regan dos sobrinhos do Celso) foi atrás do Ivan. Celso preocupado ficou na praia, mesmo porque, ele morre de medo de siri, e não entra no mar de noite nem a pau. Denis conseguiu achar Ivan, só que dessa vez quem sumiu foi o Valtão. Aí não teve jeito, foi todo mundo pro mar achando que o Valter havia se afogado. Enquanto isso, Valter, completamente goiaba, virou-se e foi, sozinho para casa, sem avisar ninguém! Seo Celino, muito gente boa, ao ver Valter parecendo um bife a milanesa, molhado e coberto de areia, colocou-o de roupa e tudo debaixo da ducha.


flagra do Valtão sendo perseguido por um caçador de homens

Parece que Valtão teve algum probleminha no caminho de volta nas areias escaldantes da Praia Grande, quando foi assediado por um “rapaz alegre” que caçava borboletas na madrugada da Orla Marítima. Depois de três horas que Valter havia chegado em casa, chegaram Celso, Denis e Ivan (esse carregado e desmaiado). Os dois estavam desesperados com o sumiço de Valter e, quando Miriam (irmã do Celso) avisou que Valter estava deitado e dormindo foi aquela zona! Celso e Denis não sabiam se abraçavam Valter ou se matavam, mas, no fim tudo se resolveu!


momento em que Ivan entra em erupção

Falando em Mirian, essa merece um prêmio. Ivan bebeu tanto que entrou em erupção de madrugada. Vocês já viram alguém vomitar pra cima? Pois é! Ivan conseguiu. E advinha quem teve que limpar o “azedume”? É claro, a grande companheira Mirian, que estava sempre encobrindo a bagunça para que a Mãe do Celso não ficasse brava. No dia seguinte, aconteceria a grande e verdadeira comemoração para uma banda de rock an´roll. Marcaram encontro com o pessoal do Jardim Patente, que estavam no Boqueirão e foram a um bar na beira da praia, que se não me engano tinha o nome de “Caiçara´s Bar” (assustador né?) e lá havia uma banda tocando. Decidiram armar um esquema para tentar “fazer um som”, e escolheram a garota mais bonita da turma para subornar os músicos de lá. É claro que ninguém resistia ao charme da Rose, uma grande amiga do Patentão. Ela que deveria empresariar a banda, pois conseguiu a “canja” no ato. Quando estavam no palco, começaram as “palhaçadas” de parte do público. Uns 20 caiçaras metidos a surfistas começaram a fazer piadas da vestimenta de Valter (se bem que não era tradicional usar camiseta do Van Halen, bermuda rasgada, chinelo de dedos e chapéu de palha da mãe do Celso para subir em um palco), para solucionar o problema, Valter olhou para Denis e deu o sinal para que começassem a tocar uma singela música em homenagem àqueles caiçaras, a calma e nada ofensiva “Surfista Calhorda!” de uma banda gaúcha chamada Replicantes! Foi a conta, depois de mais algumas músicas tocadas, os quatro tiveram que sair pelos fundos do bar, pois além dos caiçaras engraçadinhos do muro, todos os demais surfistas e metidos a surfistas presentes no bar resolveram correr atrás do quarteto que, naquele dia, demonstrou a grande forma física em que estavam, pois nunca correram tanto! Apenas uma perda a se lamentar nesse dia: O CHAPÉU DE PALHA DA DONA CARMEM! Foi uma comemoração e tanto! Fato consumado: mesmo com os surfistas e os caiçaras, o bar lotou e tinha gente de pé na mureta para poder ver a apresentação da banda. Se não fosse as ofensas de uma pequena gangue de playboys e caiçaras, o show teria sido completo. Coisas do Rock an´Roll.

terça-feira, novembro 09, 2004

18. Show do Torloni


Por incrível que pareça a escola Maria Trujillo Torloni, em São Caetano do Sul, era o reduto do Código 13 na época. A grande maioria dos fãs da banda surgiu no colégio. Acompanhavam a banda em qualquer lugar. Muitas das composições musicais surgiram em sala de aula, naquelas aulas clássica do Prof. Hiroshi (um japonês gago e "fanho" que dava aula de economia e mercado). Celso e Denis estudavam na mesma sala, e juntos com Dalmar, um outro amigo baterista, fundaram o tão falado “P.U.F.” – Partido Unidos do Fundão, pois sentavam sempre no fundo da classe, onde aconteciam as melhores performances do rock an´ roll. Quando as aulas eram boas, a P.U.F. se regenerava, mas quando era aula de economia ou de história, com o Prof. Roseira (o cara tomava umas), era só alegria. Às vezes até um violão aparecia “do nada” nas mãos de Denis. A P.U.F. era assídua na Diretoria. Uma vez chegaram a “matar aula” pela janela da Sala da Direção. Sr. Jonas, diretor do Torloni, já estava tão acostumado, que fingia não ver o que os garotos aprontavam. Ele era gente boa. Tanto que a banda escreveu um grande hit em sua homenagem: “Mordomia”, o qual faço questão de publicar em edição extraordinária a letra escrita por Denis e Celso:

♪ Na rua eu andava sozinho
Toda noite pelo mesmo caminho
Como um animal, animal irracional
Ou como um perfeito e estudante anormal
Caminhava para a escola, toda noite eu aprontava
Eu queria cair fora, estudar já não agüentava
Toda noite pela sala o diretor me perseguia
Mas agora eu não estudo, estou tendo mordomia

Estou cansado de estudar, estou cansado de trampar
Eu não agüento mais escola, prefiro até pedir esmola
Meu pai ta acabado, meu irmão aposentado
Eu também quero viver mordomia, muita mordomia ♪

Sucesso absoluto!!! É claro que não é aconselhável seguir ao pé da letra os conselhos da banda, afinal de contas, tudo era festa, mas quem não estudasse na época, tinha que ir pro ringue com a mãe.

O Torloni era um colégio bem freqüentado, e que tinha um Anfiteatro privilegiado. Como Sr. Jonas já era membro executivo do C-13, foi autorizado um show da banda neste anfiteatro. Convites e correrias até a data do show. A expectativa era grande. Tão esperado o grande dia. O teatro lotou. A entrada era franca. A banda do Dalmar abriu o show. Rock an´ Roll na veia. Logo em seguida, o C-13 abre o show com Panama do Van Halen. A galera vai ao delírio. No chão do palco, um gravador registrava os melhores momentos do show. Aquela gravação de causar inveja a pirataria, e que por muita sorte, o Valter conseguiu registrar e guardar, sem passar pelas mãos do Denis, caso contrário estaria extinta. A banda se preparava para executar a segunda música, quando de repente, a energia foi cortada. Que lindo! Imagina o Celso berrando e a bateria tocando. Coisas do Rock an´ Roll. Foi descoberto que um grupo de “malocas” , provavelmente sambistas (pois na época não havia pagode), estavam desligando a chave geral do palco que ficava no meio do público. Pra variar Celso não deixou de fazer o seu discurso: “Se tem alguém aí que tá a fim de fazer melhor, que suba aqui no palco e mostre suas qualidades!!!” É claro que os malucos do rock, induzidos pelo vocalista da banda, resolveram o ocorrido com “paz e amor”, he he he he. Não sei por quê, mas em todo show, Celso sempre abria a boca pra dizer alguma besteira. E não acabou por aí. Um caso engraçado ocorreu com um amigo da banda chamado Rodney. Pois é, ele namorava uma garota chamada Patrícia (irmã de um companheiro de equipe do C-13, o Jorjão), e pelo que me consta, ela tacava o chapéu de touro no Rodney com o Bató, outro amigão da banda, ou seja, tudo entre amigos. O Rodney na época tava gamadão. Lembro-me que uma das músicas do repertório da banda era Rádio Blá! do Lobão e o tal Rodney adorava essa música e pediu pra banda toca-la. É claro que o “Mestre dos Furos” decidiu atacar com mais uma besteira no microfone. Celsão, achando que tava abafando disse alto e em bom som: “Essa é para meu amigo Rodney...” e cantou:

♪ Ela adora me fazer de otário
para entre amigas ter o que falar ♪

É evidente que quem conhecia a história quase teve ataque de risos. Acho que o único que não entendeu nada foi o Celso, que quase foi linchado pelos companheiros. A banda resolveu pegar duro com o vocalista: “Só abra a boca para cantar, animal !!!”

terça-feira, outubro 19, 2004

17. Revista Crics - Primeira Matéria

fotos: Magaly do Prado

Radioatividade - ano V - outubro/1986

Quem se liga em música emergente não pode perder os eventos programados para este mês no Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000), em comemoração aos cinco anos de vida da Radioatividade USP - equipe de rádio do Centro Cultural, que está sempre agitando novidade no mundo dos sons. Confira:

Dia 27: Mostra com os melhores momentos do Rota 86, apresentando as bandas Muzak, Akira S e as Garotas que Erraram, Nome, 25 Segundos Depois, Scowa e a Máfia, Smack, Ness, Ira!, Voluntários da Pátria, Inocentes, Violeta de Outono, Cabine C, Laura Finochiaro, Cólera, Nau, Vultos, 365, Fellini, Sexo Explícito, Varsóvia, Detrito federal e Kafka.

Dia 28: É a vez do tão esperado Karaôke do Rock. Venham prestigiar os novos talentos do cenário underground. Encerramento com os shows de Código 13, Kães Vadius e Banda Chernobyl.

Dia 29: Jam Session com Mercenárias, Golpe de Estado, Bruhahá Babélico, Harry, Vzyadoc Moe, Fábrica Fagus, Jamp, Durex e Crime.

Dia 30: Debate sobre o tema "Rock Nacional - Da Marginalidade à Profissionalização". Convidados: Scowa (Banda Máfia), Thomas Pappon (Banda Fellini e 3 Hombres), Arnaldo Antunes (Titãs), Alex Antunes (Revista Bizz), Mário César (Folha de São Paulo), Luiz Calanca (Baratos Afins), Peninha Schimit (WEA), Exerton (Rádio 89 FM), e Wilson José (Madame Satã). Coordenação: Magaly do Prado (Rádio USP).

Dias 31, 01 e 02: Série de três shows de rock com preços especiais: Cz$ 50 (para um dia), Cz$ 80 (para dois dias) e Cz$ 100 (para os três dias). Dia 31, às 19h, banda 25 Segundos Depois e Divergência Socialista (BH); dia 01 de novembro, às 19h, bandas Vertigo, 3 Hombres e Smack; Dia 02, às 18h, apresentação conjunta das cinco bandas.

16. Centro Cultural São Paulo

fotos: Márcio Gonçalves

Terça Feira, 28 de outubro de 1986. Este foi um dos dias mais apreciados pelo C-13. Um Karaokê Roqueiro promovido pela Rádio USP (Radioatividade), onde a banda faria o show de encerramento junto com os Kães Vadius, banda de psychobilly da Região do ABC, e Banda Chernobyl. Foi uma grande coincidência o C-13 tocando com Kães Vadius, já que os mesmos se conheciam das baladas do ABC Paulista. O Centro Cultural São Paulo tem um palco muito "estiloso", possui arquibancadas ao redor do palco, e a banda fica no "meião" do público. Muito bem planejado. O grupo permanecia ansioso, já que no Centro Cultural somente tocavam os grandes nomes da época como Golpe de Estado, Beto Guedes, IRA!, Eduardo Dusek, Plebe Rude, Inocentes, Violeta de Outono, entre outros, e seria uma grande oportunidade de divulgação da banda, tocar neste espaço. Neste dia, teve direito até a entrevista para a Globo, pois o pessoal do Plantão SP estavam lá divulgando o evento. Só que Celso acabou perdendo de ser entrevistado, pois só daria entrevista se fosse com a banda. A repórter acabou o ignorando, e a entrevista foi pro saco. Não faz mal. O teatro lotou. Praticamente 70% eram amigos da banda. Celso e Denis haviam chegado antes para os preparativos. Valter e Ivan chegaram quase em cima da hora, e muito deprimidos, pois haviam esquecido os pedais de distorção de guitarra dentro do metrô, e os pedais eram emprestados do Davi, irmão do Denis. Baixo astral total, bem antes do show, devido às discussões no camarim, xingamentos, acusações, coisa que acontecem em qualquer família. Isso mesmo, pois os rapazes eram muito unidos, e a amizade sempre falou mais alto. Fizeram o show, numa boa. Valter acabou tocando, se não me falha a memória, com um pedal da Boss emprestado pelo guitarrista George, dos Kães Vadius. Enfim, o rosto de cada um indicava que algo havia acontecido. Para o público, estava tudo nota 10. Eu mesmo me impressionei com a performance dos rapazes ao tocarem Surfista Calhorda, música dos Replicantes, que ficou tão perfeita, que parecia que era dos caras. Até os punks viraram fãs do C-13, coisa que parecia impossível de acontecer, já que a banda era de rock, mas me lembro como se fosse hoje, os punks se esbofeteando, em uma espécie de dança do acasalamento, e os organizadores do evento, preocupados em parar o show, antes que acontecesse alguma tragédia. Como esse povo se assusta fácil! Lá fora, no final do evento, todos tentavam afogar os erros em um barzinho que tinha bem em frente ao Centro Cultural. Só na mesa da banda havia uns 30 amigos pra mais. Inclusive o dono dos pedais, que ficou por lá para dar uma força para a banda. No final tudo deu certo. Inclusive, o boteco acabou virando o novo “point” de encontro da galera do C-13.

segunda-feira, outubro 18, 2004

15. Ivan Valle

fotos: Márcio Gonçalves

Ivan também começou a tocar baixo meio que contra a vontade. Quando Ivan surgiu pela primeira vez na casa do Denis, apareceu com uma guitarra em baixo do braço, se oferecendo para entra na banda. Foi quando Valter, que na época “tocava” baixo, resolveu acionar seu plano B. Disse ao Ivan, que estaria na banda se virasse baixista. Ivan topou. Iniciou aos 13 anos tocando guitarra, sempre com o sonho de fazer da música sua profissão. Nem imaginava que um dia seria baixista. Quando entrou na banda, não sabia uma nota no baixo, mas isso não importava. Eram quatro adolescentes, que só estavam a fim de fazer um som, curtir um Rock an´Roll, e acabaram aprendendo música um com o outro, em ensaios que duravam de 6 a 8 horas, todos os domingos. A força de vontade era o que mais contava no Código 13. Ivan tornou-se um baixista consagrado por vários músicos e conseguiu fazer da música sua profissão, ainda que tenha que "ralar" muito.

14. Valter Mendes Jr.


Valtão, como o chamavam, era e é até hoje, fã de Eddie Van Halen, guitarrista do Van Halen. Tanto que até se vestia igual, com uma camisa listrada vermelha e branca, calça rasgada no joelho (naquela época ainda não era moda), e às vezes, bem contra a vontade da banda, usava polainas preto e branca por cima da calça (em homenagem ao Santos, é claro). Mas é melhor nem falarmos nisso! Valter é o único músico de sua família. Antes do C-13, tocava numa banda cristã, porque namorava a vocalista, que tentava a todo custo converter Valter ao cristianismo. Foi numa apresentação desta banda, no colégio onde estudavam, que Celso veio a conhecer Valter, apresentado por Denis Martins. Eles estavam na platéia, assistindo ao Festival de música, e Denis levou Celso para conhecer quem seria o baixista da banda. Quando Valter entrou no palco, me lembro como fosse hoje do diálogo que surgiu entre Denis e Celso:

Denis: É esse aí o cara. Presta atenção
Celso: Mas essa banda é gospel. O cara é crente.
Denis: Não é não. Ele ta fazendo média pra namorada.
Celso: Ah, bom! Que música horrível... Tem certeza que o cara toca legal?
Denis: Fica frio! Ele vai ser nosso baixista.
Celso: Mas e se um dia ele teimar em tocar guitarra.
Denis: Não faz mal. Pelo menos ele toca melhor que você.
Celso: Ta me tirando puto???
Denis: Fica quieto! Vamu ouvir o solo do cara.
Celso: Credo!!!! Até minha mãe toca melhor que ele.
Denis: Sua mãe quer ser baixista da banda?
Celso: Não.
Denis: Então vai ser ele mesmo, e ponto final.
Celso: Falou!

13. Celso Montal

fotos: Márcio Gonçalves

Filho do cantor Cowboy Monte Alegre, teve sua iniciação na música dentro da própria família aos 14 anos. Cresceu ouvindo Elvis e Roberto Carlos. Quando conheceu Denis, era surfista, tinha o cabelo cor de cenoura, e usava camisas extravagantes como a da foto (que horror!). Foi convertido ao rock pelo amigo Babú, que colocou um walkman no seu ouvido, no último volume, com a música Crusader, do Saxon. Ganhou sua primeira guitarra, uma Tonante, de seu pai, que por sinal, era o que mais incentivava a carreira do filho. Sua família lembra a família Do-Ré-Mi. Seu avô paterno era maestro, sua avó, professora de música. Seu pai era cantor da Rádio Record, na década de 50, suas irmãs fazem parte de corais sacros, e agora, seguindo a tradição, tem um sobrinho baterista, uma sobrinha vocalista, e um outro sobrinho, ex-guitarrista da banda de reggae “Forças do Gueto”, que que sempre fez questão de dizer que teve influencias com o Código 13 (más influências). Celso montou com Denis, sua primeira banda, que ainda não possuía nome e chegaram a fazer algumas apresentações, só guitarra e bateria. Com a entrada de Valter Mendes, no baixo, a banda começou a se apresentar já com o nome Código 13.

12. Denis Martins

fotos: Márcio Gonçalves

Vencidos pelo cansaço, após diversas porretadas no sofá e nas panelas de Dna. Rosa, os pais de Denis, resolveram presenteá-lo com sua primeira bateria, uma Star Pérola. Enquanto os bateras de hoje já conseguem uma Pear, o C-13, conseguia, com muito custo, uma “Pérola”. Isso não os impedia de fazer um p.... som. Denis foi o que convidou Celso para montar uma banda rock. Foi a primeira vez que um roqueiro convida um surfista pra montar uma banda de rock. Anotem bem isso!!! Tudo pela amizade. Denis cresceu ouvindo rock, já influenciado pelo seu irmão mais velho, Davi. Ouvia Black Sabath, Metallica, Saxon, mas era fã incondicional do Iron Maiden, e ouvindo seu baterista predileto (Nicko McBrain) tocar, foi que teve maior interesse pela bateria. Foi Denis também que fez o convite a Valter Mendes para tocar baixo. Valter na época era guitarrista, mas como a banda precisava de um baixista, Valter entrou meio forçado a tocar baixo. Denis também nunca estudou música, e mesmo assim, desempenhava seu papel muito bem nas baquetas. Até para dirigir, quando parava no semáforo, ficava tocando sua bateria “no ar”. Quem o via, achava que era altista, não artista.

sexta-feira, outubro 15, 2004

11. São Caetano Gotham City


São Caetano do Sul, um bar chamado Baldão, que servia um drink com o mesmo nome, a base de pinga e soda (acredito que era soda cáustica), que era servido em um balde do tipo os que hoje existem no Cinemark para refrigerante. Situado no meião da Rua Santo Antônio, ao lado do Cine Vitória (hoje Vitória Hall), point de encontro dos músicos ditos “alternativos” da Geração 80. No fundo, várias mesas de bilhar, esporte predileto dos músicos. Lá se misturava todas as tribos, mesmo com a “rixa” entre punks e metaleiros. O único problema eram os “carecas do ABC”, também chamados de skinheads, que por onde surgiam, detonavam tudo na porrada. Fora isso, lá tudo era “peace and love bicho”. Freqüentavam o mesmo teto Luiz Thunderbird e sua tropa do Devotos de Nossa Senhora Aparecida, Kães Vadius, Garotos Podres, Joe Limão e seus Fanta Uva, Ratos de Porão, Kid Vinil e sua banda Magazine, o grande Rick n´ Roll, famoso pelo seu Concurso de Topetes, e claro, Código 13. Se não era Baldão, era a danceteria “Amarelo 20”, que rolava altos sons. Além dos já existentes Punks e Metaleiros, começaram a surgir os Darks, que se vestiam de preto, e só curtiam bandas undergrounds (Siouxsie & The Banshees, Jesus & Mary Chains, Bauhaus, The Cure), os Rockabillys que tentavam resgatar, e muito bem por sinal, os sons dos anos 60, com direito a jaqueta de couro, topete e brilhantina, e os chamados psichobillys, que misturavam uma letra punk com o rock dos anos 60 (Kães Vadius, Joe Limão). O Código 13 era uma banda Rock n´Roll, que misturava um pouco disso tudo, devido a cada um curtir um tipo de som. Valtão, o guitarrista, sempre devoto de Eddie Van Halen. Ivan era mais eclético, apesar de ter suas raízes no Rock n´Roll, curtia um pouco de tudo. Já Celso e Denis, passaram por diversas metamorfoses, tentaram ser punks, darks, rockabillys, mas acabaram voltando ao velho e bom Rock n´Roll. Ainda me lembro, quando todos se reuniam e não mediam esforço para freqüentar shows em São Paulo. Quando os shows eram no Madame Satã, pegava-se um “busão” até a Vila Mariana, e caminhava-se a pé, até o final da Av. Paulista, quase na Consolação, não importava a hora. Algumas madrugadas foram passadas no meio da “friaca noturna”, dormindo no Terminal Vila Mariana, até as Empresas de Transporte iniciarem seus serviços. Verdadeiras aventuras que já não acontecem nos dias de hoje, devido a juventude mal acostumada, que só sai de casa se for de carro. E dizem que é por causa da violência, como se também não houvesse nos anos 80. Madame Satã era um bar escuro, com luzes de néon por toda parte. Os shows eram realizados no porão do salão. Por lá passaram bandas como RPM, IRA!, Ratos de Porão, Devotos, Kães Vadius, Garotos Podres, Replicantes, 365 (Sem São Paulo, ô ô ô), Detrito Federal, e mais um montão de novas bandas que eram patrocinadas pela maior gravadora independente da época, a Baratos Afins. Só o Código 13 não chegou a tocar por lá, mas era bem freqüentado por seus integrantes. Foi daí que surgiu o convite para o C-13 se apresentar no Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, n° 1000), outro point da galera underground. Seria um Karaokê Roqueiro, uma espécie de Festival de Bandas de Rock, organizado pela Rádio USP, onde o Código 13, junto com os Kães Vadius, fariam o show de encerramento.

quinta-feira, outubro 14, 2004

10. Os "Mano" Pow! As "Mina" Pá!


Mais um casório para a coleção. Era assim que funcionava: os caras tocavam em uma festa, e sempre alguém gostava. Naquela época, todos eram um pouco empresários da banda. A divulgação era feita boca a boca. Não havia as facilidades da Internet. Um falava pro outro de um show aqui, outro ali. Parece que um convidado que estava na festa de casamento da irmã do baixista viu a banda tocando, e os chamou para tocar em seu casamento. Detalhe: a festa seria na Favela de Piraporinha, em São Bernardo do Campo, em um salão da Seicho No Iê, bem no meião da favela. É evidente que o C-13 encarou mais uma. Para eles tudo era festa. Aliás, literalmente falando até aqui, “tudo era festa”. Após alguns incensos acesos para Massaharu Tanigushi, foram tocar no tal casamento não sei de quem e nem com quem. O que importava era cerveja, mulher e rock n´roll.
Nesse dia o pessoal foi pra lá com o Davi, irmão do Denis, pois ninguém tinha carteira de habilitação, já que eram todos menores. E o Davi sempre quebrava o galho nas caronas para os shows. Chegaram lá no final da tarde, e já havia um palco, com uma aparelhagem “meia boca”. Atrás do palco, havia um espaço reservado para os músicos. O salão começou a lotar. Pessoas de todas as raças, cor, credo. O negócio começou a esquentar lá por volta das 21:00, onde quase todos os convidados, inclusive a banda, já estavam sob efeito de inúmeras cervejas. Era hora da banda se apresentar. Uma das “mina” que estava na festa veio pedir para que tocassem RPM. Lembro-me que a banda jamais executava músicas do RPM, pois havia um pacto entre os músicos, que RPM jamais entraria pro repertório da banda, mas como era uma festa familiar, no centro da Favela de "Pirapora", Valter e Ivan tiraram umas músicas na hora, com uma mini-vitrola e um discão de vinil, e a banda atendeu o pedido da garota, executando “Revoluções Por Minuto”, "Rádio Pirata” e “Olhar 43”. As músicas ficaram perfeitas. Não sei se o C-13 tocava pra caramba, ou se as músicas do RPM são tão ruins, que qualquer um toca. Acredito mais na segunda opção, hehehe. Porém, este sensacional desempenho, só serviu para ganhar a simpatia das “mina” que estavam por lá, e a antipatia dos “mano”, que estavam fuzilando, pois a banda estava desviando toda a atenção da mulherada.
A coisa começou a complicar, quando Valter e Celso, estavam conversando ao lado do palco, e viram um enorme “afro-brasileiro” apontar uma Magnum cromada para eles, dizendo com todo carinho “eu vou apagar estes manés!!!”. Acho que os dois não sabiam o que fazer, pois ficaram olhando um para o outro, petrificados, ou melhor dizendo, “com o c.... na mão”. Sorte que o noivo, percebendo a cena, foi lá e acalmou o “negão”, talvez prometendo que a banda ainda iria tocar Bezerra da Silva e Zeca Pagodinho.
Enquanto isso, Denis, o baterista, no outro lado do palco, distribuía beijos na mulherada. Que cena engraçada!!! Uma fila de mulher dando beijo no cara. Acho que era o modo que ele encontrou de dar autógrafos.
O Ivan sumiu!!! Ninguém mais viu a cara dele. Enquanto isso, o circo começava a pegar fogo. A maioria dos “mano” já tinham ido embora, e as “mina” começaram a se soltar, e ameaçar de invadir o palco e agarrar os músicos. A coisa começou a ficar preocupante. O C-13 tinha que encontrar uma maneira de sair dali, sem serem vistos pela mulherada. Tarefa totalmente impossível, já que a porta era do outro lado do salão, e para sair tinha que passar pelas “mina”. A única solução era o Davi ligar o carro, abrir a porta, que a banda ia sair correndo pra tentar alcançar o carro. Galera, vocês não vão acreditar. Cena que só se via em show dos Beatles. Valter, Denis e Celso (o Ivan continua sumido), correndo, atravessando o salão, e um monte de “mina” tentando agarrá-los. Coisa de 13 mesmo. Alcançaram o carro e conseguiram entrar. Uma das “mina” furou o bloqueio e agarrou o Celso dentro do carro. Valter fazia o maior esforço pra tirá-la de lá. Comédia mesmo. A mulher que pegou o Celso parecia a Sandra de Sá, de tamanho, cor e credo.
Dia seguinte, os quatro reunidos para o fiel ensaio dominical, e evidente, que era a hora de repassar o acontecido. Adivinha quem chegou atrasado no ensaio? Ivan, o desaparecido. Pelo que me consta, Ivan, um pouco alto pelo consumo excessivo de cervejas, saiu perambulando pela favela acompanhado de uma “mina”, e dormiu no sofá de uma residência, que ele diz não saber nem de quem, sendo acariciado por uma “tiazinha”. É claro que não sei ao certo o que aconteceu naquele dia, já que muita coisa ficava em segredo entre os quatro rapazes, mas que todo boato tem um fundo de verdade, ah, isso tem!!!

segunda-feira, outubro 04, 2004

9. Festival dos Festivais


“Se o Rock in Rio pode, nós também podemos”. Essa era a frase que Montal dizia quando convidados para um evento que envolvia Duplas Sertanejas, Forrós e Rock n´ Roll. Foram tocar numa escola na Vila Arapuá (“cidade” natal de Celso Montal que nasceu nas mãos de uma parteira, atrás da Igreja). O evento aconteceria na E.E. “Eurípedes Zerbini”, e me parece que foi arranjado pelo pai do Denis (baterista). Se não me falha a memória, era uma festa política. O forte da noite era uma dupla caipira que iria encerrar o show, mas o pessoal do C-13, agitou tanto a galera, que ninguém os deixava parar de tocar. O evento era totalmente jovem, e a dupla era estilo Milionário e José Rico. Ou seja, se tirassem o Código 13 do palco, era capaz de acontecer alguma tragédia, do tipo que acontecia freqüentemente nos shows do Raul Seixas, quando Rauzito não comparecia e a galera quebrava tudo. Receados com este episódio verídico do Raul, os organizadores resolveram manter a banda no palco, mesmo porque, a turma que acompanhava a banda era sempre “um pouco apavorante”.
Como a banda possuía algumas músicas próprias, decidiram encarar alguns Festivais de Música Escolares, um meio muito importante para a divulgação das bandas. Não importava ganhar o Festival, e sim, tocar, tocar e tocar. Quatro rapazes com sede de subir em um palco com uma aparelhagem razoável. Participaram de festivais nas Escolas “Antonio Alcântara Machado” e “Alexandre de Gusmão” ambas no Ipiranga. No “Alcântara” havia uma banda gospel participando, muito boa, e que acabou levando o 1° lugar, que tinha um nome estranho..... se não me engano..... Katisbarnea. Já no “Alexandre de Gusmão”, a comédia foi quando a banda chegou lá para o Festival e se deparou com uma bateria portátil, do tipo Brinquedos Estrela, o que fez com que Denis tivesse um ataque histérico, mas tudo não passava de uma brincadeira dos organizadores. O show rolou, com bateria de verdade, e teve até uma sonzeira de encerramento com o Deep Purple, que moravam na época, lá no Brás.

quinta-feira, setembro 30, 2004

8. Show com o Rei do Rock

fotos: Priscila da Silva Presley

Agora que estavam afiados, um mega evento estava programado para os caras do C-13. A banda já tinha música própria e até fã clube, organizado pelo “Galo Cego”, que até hoje não conseguiu passar de dois associados, o próprio Galo e o Paulinho Loco. A idéia das músicas próprias surgiu de repente, quando Ivan e Valter brincavam antes dos ensaios com um blues inventado meio “nas coxas”. Quando Celso chegou e ouviu o blues, apareceu com uma letra no outro dia, onde contava sobre o início da banda. Surgiu aí a mais pedida “Como é Bom Tocar o Blues”, e logo em seguida, a “lentosa” da banda que atingia os corações “da mulherada”, intitulada Reencontro. A banda já estava tomando formato comercial, com tanta badalação. E por incrível que pareça, o pessoal gostava mesmo. Foi aí que surgiu o primeiro convite para um “mega evento” na Praça da Apoteósi do Jardim Patente, exatamente ao lado do C.D.M. (Clube Desportivo Municipal), onde o C-13 estaria tocando com o Grupo Algodão Doce (naquele tempo já existia estes grupos de meninas “patricinhas” que cantavam e dançavam) e o tão consagrado Rei do Rock “Elvis Presley”. Este show aconteceria em cima de um caminhão, e estava sendo patrocinado por um político, que ninguém até hoje sabe o nome. Tudo pronto, aparelhagem montada. O Grupo Algodão Doce foi o primeiro a subir no palco. As três meninas não tinham mais de 12 anos, mesmo assim, o visual debaixo do caminhão era bem agradável para 4 músicos que ainda estavam curtindo a adolescência. O C-13 subiu no palco (carroceria) logo em seguida, apresentando as duas músicas próprias. A galera mais jovem curtiu muito, enquanto o pessoal mais velho acabava de descobrir quem eram os caras que faziam barulho no bairro todo domingo à tarde. E era chegada a grande hora de conhecer o “Rei do Rock” de perto. Ele estava atrasado, pois havia ficado preso no caótico trânsito de São Paulo (quem disse que as coisas mudam?). De repente, uma multidão se afasta para chegada de um Ford Landau modelo LTD, ano 1973, branco, que acabava de encostar ao lado do “caminhão palco”. O motorista desceu do carro para abrir a porta para o tão esperado “Rei do Rock”. Elvis Presley, com sua roupa "quimono" branca, óculos escuros, topetão. A euforia tomou conta do Patente. Eis que o Rei do Rock surge no palco, cantando uma versão tupiniquim de “Kiss me Quick”. Depois desta aventura, qualquer show seria uma "baba" para os quatro rapazes do Código 13. Eles podiam dizer que foram abençoados, pois tocaram com o Rei do Rock “Elvis da Silva Presley”. A partir daí, até Raulzito invejava essa banda.

quinta-feira, setembro 16, 2004

7. Married about 13


E pensar que Código 13 referia-se aos integrantes da banda. Quem em sã consciência chamaria uma banda de rock para tocar na festa de seu casamento, ainda mais sabendo que C-13 referia-se a “doentes mentais”. Pois a irmã do baixista pediu a gentileza para que Ivan convidasse o seu pessoal a tocar no casamento dela. Unanimidade!!! Era a oportunidade de mostrar a nova e então definida formação. O casamento seria realizado em São João Clímaco, próximo ao Jardim Patente, em um salão enorme, porém, com um detalhe: sem palco. Mas como tocar sem palco? Isso não era problema para um grande amigo da banda que se empenhou o máximo a montar um palco de madeira, às pressas, no meio do salão. Tonhão, o marceneiro. Tonhão era um pacato amigão que não desgrudava da banda. Cabeludo, com um bigode de “Biro-Biro”, curtia um som “paulêra”. Morava na marcenaria, onde possuía alguns artefatos que enfeitavam seu sótão, onde dormia. Uma bomba do Exército Americano ficava pendurada no meio do teto. Um semáforo iluminava o ambiente, sempre que ouvia Pink Floyd no último volume. As placas de trânsito substituíam os quadros na parede. Possuía um estranho animal de estimação que, dizia ele, era seu “cão” de guarda: um peru, que devido à criação com os cachorros, havia aprendido a latir, e a cada vez que Tonhão assoviava, vinha correndo como se fosse um Dog Alemão. Não era muito amigável com estranhos. Em um de seus ataques aos amigos, Tonhão ficou furioso e o trancou na garagem com o carro ligado. Lá se foi o peru, morto por asfixia de gás carbônico. Isso não era nada, comparado com o “Dia da Cremação”, onde Tonhão pegava as ratazanas, tingia-os com querosene e ateava fogo, o que ele chamava de “pequenos cometas roedores”. Assustados???? Pois pasmem: Tonhão não bebia, não fumava e era totalmente contra as drogas. Um verdadeiro código 13. Mas voltemos ao casamento. Tudo pronto, palco montado, banda calibrada (com cervejas é claro!) e chega o momento do grande show. O que parecia impossível virou “festa da casa”. A banda começou leve, com rock nacional, moderado, mas depois da 5ª cerveja, vale tudo. Rock and Roll na veia. O noivo pulava, a noiva gritava, tudo era festa. Todos dançavam ao som de Led Zeppelin, Van Halen, Deep Purple, Rolling Stones e até mesmo Iron Maden. Doidera total e inesquecível. O que era para ser uma festa de casamento seria para a banda a confirmação de uma grande harmonia e entrosamento destes quatro rapazes. Estavam prontos para enfrentar o mundão e cair na estrada.

6. O Arsenal da Banda


Como toda banda que se prezava, era necessário possuir alguns instrumentos de qualidade ainda que mediana. Nos anos 80, aqui no Brasil, era muito difícil conseguir um bom instrumento e um bom equipamento a preço acessível! Fender, Gibson, Marshall, Boss... isso tudo era um sonho muito distante! Sendo assim, dentro do possível, alguns equipamentos foram sendo adquiridos, uns emprestados (graças aos amigos da banda), outros comprados em infindáveis prestações que por pouco não se estenderam até os dias de hoje.
E para aqueles que atualmente, só tocam se a banda possuir um “Rider Técnico” razoável, segue aqui a “lista de aparelhos” usados pelo C-13, que por sinal, provavam que o Rock n´Roll supera qualquer obstáculo. Para isso dividirei essa fase em duas “Eras Paleozóicas”:

Era pré-Ivan

- uma guitarra tonante pintada de preto com spray pelo próprio Celso, e cheia de figurinhas (daquelas que vendia em bancas de jornal), com um braço que pesava mais que a própria guitarra;
- uma guitarra sem marca que tinha o corpo de uma Les Paul, toda pintada ao estilo Eddie Van Halen (preta, com listas amarela). O braço dessa guitarra era tão grosso que era impossível fazer mais de duas pestanas seguidas sem ter um problema nos tendões;
- um pedal misto de distorção e wah-wah para guitarra, também emprestado pelo Davi, irmão do Denis!
- dois microfones LeSon, um preto de plástico, que hoje é usado em máquinas de karaokê, e um prateado, que era imitação barata do Shure (que representava um avanço, já que nos primeiros ensaios, Celso cantava sem microfones);
- um contra-baixo Gianini, emprestado de um amigo evangélico chamado carinhosamente de “Preto”;
- um belo amplificador da Palmer, valvulado, comprado a suaves prestações por Valter, na época em que era office-boy;
- um “super possante” amplificador marca Mikassin, de 50W;
- uma bateria perolada, marca STAR, que Denis tocava, apenas usando um prato, bumbo, caixa e um ton-ton;

Era Pós-Ivan

Com a chegada do Ivan as coisas melhoraram um pouco! Ivan tinha em sua posse uma linda Gianinni Stratocaster branca! Como seria o baixista não precisava dela, foi aí que Valter (o Rei das Tramóias) fez uma proposta para o amigo “Preto” (dono do contrabaixo) e após a compra do contrabaixo, trocou-o com Ivan pelo que seria, até hoje, sua guitarra favorita! É evidente, que Valter mexeu um pouco no visual de sua guitarra. Encheu-a de fita isolante, imitando as listas pretas da guitarra de Eddie Van Halen, colocou uma captação importada da DiMarzio, alavanca Floyd-Rose, colocou as tarrachas de cabeça para baixo, comprou pedais da Boss e uma câmara de eco quase caseira, que foram conquistados com suor e lágrima, também em prestações a perder de vista. E o pior de tudo, é que ele conseguiu construir uma réplica da guitarra do Eddie.
Ivan trouxe também um microfone da Shure que deu mais qualidade e fidelidade ao vocal de Celso, o que fez de Denis, um excelente “2ª voz” (naquele tempo o McDonald´s ainda não havia “americanizado” a Língua Portuguesa, e “backing vocals só existiam em bandas “gringas”), e um pedal de distorção chamado Big Muff (o mesmo modelo usado por Jimi Hendrix).
Para o baixo, havia duas enormes caixas de som ligadas a um cabeçote valvulado potente. Só ele dava conta da pegada pesada do Gesse Butler de São João Clímaco, Ivan.
Sr. Luiz, chamado carinhosamente pela banda de “paizão”, percebendo que a “brincadeira” estava ficando “séria”, tratou de ajudar o filho e comprou uma bateria decente que completou o arsenal de armas da Banda!

sexta-feira, setembro 10, 2004

5. A Chegada de Ivan - O Bárbaro

desenhado por: Rogério

Após várias tentativas frustradas de convencer Celso Montal a deixar a guitarra, Valter decide colocar seu plano maquiavélico em prática. Em um dos ensaios, que acontecia exatamente em um quartinho 2 x 2, na garagem da residência do Denis, um rapaz de cor pálida (ao extremo), vestindo um macacão (ou jardineira) blue jean, com cabelo de Paulo Ricardo, aparece perguntando se a banda estava precisando de guitarrista. Sem dúvida alguma, a banda estava necessitando de uma "peça chave", pois Valter odiava tocar baixo. Foi exatamente nesse momento que Valter teve uma brilhante idéia. Convidou o Paulo Ricardo, Ops! Ivan, a tocar baixo. Ivan, não sabia tocar nada no baixo. Mas, beleza. Ninguém sabia nada de música, mesmo! E foi a partir de março de 1986, que surgia a primeira grande formação do Código 13:

Ivan Valle (baixo)
Celso Montal (vocal e guitarra)
Denis Martins (bateria)
Valter Mendes (guitarra)

Começaram a aparecer os primeiros fãs: Galo Cego e Paulinho Lôco. Na medida que o tempo passava, apareciam mais e mais amigos, lotando a garagem. Os ensaios viraram ponto de encontro entre vários amigos, namoradas, e os dois únicos fãs. O movimento pela residência de Dna. Rosalina e Sr. Luiz (pais do Denis), se tornava frequente. E apesar de geralmente os pais de músicos serem contra essa enorme "baderna organizada", os pais do Denis, nos apoiavam, inclusive, com pedidos de música que chegavam a impressionar a banda. Sr. Luiz, vez ou outra, descia até a garagem para pedir "Hallowed By The Name" do Iron Maiden. Dna. Rosa, preferia um som mais light. Sunday Bloody Sunday, do U2, era de bom tamanho. O grupo se dedicava. Tornou-se um compromisso. Todo domingo, era dia de ensaio, a partir das 14:00 horas. Todos estavam lá. O que mais se atrasava, era o Denis. Coitado !!! Morava longe!!! No andar de cima.... Chegava dia, em que não se conseguia quase entrar na garagem. Era uma época de Rock and Roll. Todo tipo de maluco. Fãs de Raul Seixas, Camisa de Vênus, Beto Guedes.. outros de Iron, Metallica, Saxon, Judas Priest, e.... um vocalista fã da Blitz.... E devido as inúmeras insistências de Ivan, Celso acabou abandonando a guitarra base para se dedicar somente aos vocais. Para mim, isso foi armação do Valter e do Ivan. Mas o importante é que deu certo. Essa formação acabou estreando no Casamento da irmã do Ivan. Mas isso é uma outra história....
Detalhe: Ivan aprendeu a tocar baixo e muito bem, por sinal.
Já o Paulo Ricardo ..... asgh !!!!

sexta-feira, setembro 03, 2004

4. Festa do Bolão - Old´s Bar


Grande dia !!!! Chegou o tão esperado dia.... A Festa do Bolão..... Na realidade, a festa era para a noiva do Bolão, que fazia aniversário. Mas quem era Bolão????? E pra que saber.... Seria o grande dia.... O primeiro show do Código 13.... Celso, Denis e Valter. Quem veio com essa de tocar no aniversário da noiva do Bolão foi o Denis. Parece que era um vizinho, que sempre ouvia os ensaios do grupo. O cara devia ser mais louco que a própria banda. Convidar uma banda de rock para animar a festa de sua noiva. Mas belê ! Tudo programado. O "bailão" do rock foi em uma casa noturna no Riacho Grande chamado Old´s Bar. Acreditamos que pelo nome, seria a noite do Old Eight. E lá foi o trio se aventurar em tocar rock para o grande Bolão, porque a aniversariante mesmo, estava em pânico, tentando entrar no clima, com uma imensa garrafa de champagne francês nas mãos. Fora os convidados da banda, os quais chamávamos de Roddies ( acho que nós é que inventamos o cargo ), que entraram tudo "na faixa" carregando aparelhagem. A senha para entrar no "bote" era: Somos da Banda. Foi o que fizeram. Naquela noite devia ter uns 30 componentes da banda. Inicio de show, e soltamos uma das músicas de autoria própria, que acredito eu , fazia mais sucesso do que os "covers". Só dava a Turma do Patente gritando o refrão inescrupuloso de "Mordomiaaaaaaa!!!!" Paulera do começo ao fim. Após isso, nunca mais vimos o Bolão, mas fica aqui esta pequena e singela homenagem àquele que foi o primeiro a acreditar em nosso potencial. Ou, porque eramos a única banda que tocava em aniversário sem cobrar cachê ( desde que a aniversariante fosse uma "boa" menina e que o "combustível" fosse cortesia da casa ). Não importa! Valeu Bolão !!!

3. Cartoon 13 - by Montal®

desenhado por: Celso Montal

Os Personagens:
Pintinho, Toquinho, Bafo e Jamel
(Aguardem o por quê)

2. Colégio Torloni (1985)

Quase 20 anos atrás, 30 kilos mais novo. Época da tão falada "New Wave". O início das bandas de rock nacional. Febre do 1º Rock in Rio. A maior discussão era: o que Gilberto Gil, Alceu Valença e Baby Consuelo estão fazendo na Praça do Rock. Tudo era "rock". Até samba era chamado de "rock". Surgiam as consagradas, algumas já extintas, bandas de rock alternativo, com nomes que levavam os pais e mães a estados de pânico total: Garotos Podres, Kães Vadius, Ratos de Porão, Nau, Devotos de Nossa Senhora Aparecida (lê-se Thunderbird), Lobotomia, RPM (a mesma bichisse de sempre), Ira, 365 (sem São Paulo, ô ô ô), Replicantes, Inocentes, e a tão crucificada Camisa de Vênus. Foi exatamente neste inicio de Punk Rock que um vocalista de cabelo cor de cenoura (um mullet de causar inveja em Marcos Mion), com calça laranja e camisa verde acesa, (tudo isso muito normal hoje em dia se comparar com a banda de "emos" Restart) cujo esporte mais radical era carregar prancha de surf pela praia, fã da Blitz e Lulu Santos, e que passava horas e horas curtindo um sonzasso de "Eu tinha uma galinha que se chamava Marilou", conheceu um rockeiro pervertido e magrelo, fã do Iron Maiden, com seu fiel parceiro de noitada, um tal de Babú. Em sala de aula o impacto entre estas duas "irrealidades" foi grande. De um lado um rockeiro fã do Iron, de outro, um surfista fã de Evandro Mesquita. Daí iniciou-se, por incrivel que pareça, uma grande amizade. Denis Martins (baterista de panela) e Celso Montal. Mas Denis tinha um grande objetivo antes de iniciar esta grande parceria. Teria de converter um surfista em roqueiro. Apresentou em seu walkman da SHARP (modão na época), a música Crusader (Saxon) para Celso. Era tudo o que faltava para Celso se tornar um legítimo rockeiro. Porém, Celso não foi tão feliz. Deve estar correndo até hoje atrás de Denis, tentando fazê-lo escutar "Nós Vamos Invadir sua Praia". Montaram sua primeira banda. Denis na bateria, e Celso no vocal. Denis com sua potente bateria marca STAR e Celso com a importada e famosa guitarra TONANTE. Uma banda perfeita. O repertório???? Ultrage a Rigor !!!! hehehehe. E foi em um deste Festivais Intercolegiais, que foram apresentados para um baixista, que na verdade era guitarrista, mas tinha que ser baixista, porque Celso já tocava guitarra. Valter Mendes, fã do Van Halen, por incrivel que pareça, até os dias de hoje. Valter já era conhecido de Denis, pois moravam no mesmo Bairro (Jardim Patente). Era engraçado vê-lo no palco, com guitarra e vestuário semelhante ao do Eddie Van Halen (incluindo a inseparável meia listada por cima da calça), tocando um solo medíocre, em uma banda Gospel:

♪"Quando vi uma Luz
brilhando mais perto,
brilhando perto de mim.
Pensei até que fosse,
um raio, uma estrela,
brilhando perto de mim,
no seu olhar, em seu olhar,
em teu olhar, no teu olhar"♪.

Na época Celso já convertido ao velho e bom Rock and Roll, vibrava, pois sabia que não era o único que "pagava sapo" em cima de um palco. Talvez por isso Valter foi escolhido para a banda. Seu solo era tão ruim, que foi convidado, por livre e pura pressão a tocar baixo. Ou tudo ou nada. Valter aceitou, bem contra a sua vontade, e com um baixo Gianini emprestado, entrou para a banda. Faltava um nome. Até que o cunhado de Celso Montal, que era da Policia Civil, assistindo uma das apresentações, criou um nome para a banda, baseado nos códigos da policia "Código 13", que se referia a "loucos", "dementes", "insanos". Pela sugestão, vocês imaginam como eram as apresentações .

quinta-feira, setembro 02, 2004

1. Tudo começou quando comprei um violão!

Valter e Celso, respectivamente, guitarrista e vocalista da Banda Código 13, estarão desenvolvendo esse diário, para tornar pública suas trajetórias ao lado de outros dois brothers, Ivan e Dênis, respectivamente, baixista e baterista da banda.
Queremos aqui divulgar várias histórias e trazer fotos das grandes "aventuras" e do enorme crescimento como músicos e seres-humanos destes rapazes.
Toda história será narrada pelo sempre fiel parceiro ( hoje podemos chama-lo de virtual ), Grog, o mascote que aparece no fundo da tela.
Esperamos, sinceramente, que gostem e enviem comentários.
Um forte abraço...
Valter e Celso